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Este Post tem o apoio cultural da Eletrônica Tavano
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Até o êxodo rural da década de setenta do século passado (nem parece, não é?) as pequenas cidades do interior primavam pelos quintais enormes, quase todos transformados em requintados pomares
Borjas Braga*
Até o êxodo rural da década de setenta do século passado (nem parece, não é?) as pequenas cidades do interior primavam pelos quintais enormes, quase todos transformados em requintados pomares. Só se ouvia falar de aglomerados humanos e favelas por notícia de rádio ou jornal. Por isso me ligo em quintais...vejamos!
Meu quintal. Ou seja, do Cirilo Braga em Boa Esperança do Sul. Meu pai guardava dentro de si um xodó especial por uvas e parreiras. Onde morava cultivava sempre alguma espécie, com tanto desvelo que elas o recompensavam em dobro. E nós, de casa, nos locupletávamos.
Dessa forma, apesar dos pés de figo, laranja poncã, tangerina, lima, jambo (ô coisa que nunca dava), cana e jabuticaba, o forte mesmo era nossa parreira de uvas. Pode-se dar um troféu para ela que é merecido. E a gente ainda invadia o quintal do Domingos Tocci, outro filão. E passemos para o próximo...
Seu Tita Costa, genitor do amigo Alceu, morava em uma casa situada à beira da estrada municipal que levava à represa, Seu quintal possuía destaque especial. Foi o único onde vi plantados vários pés de gabirobas. Eles não só enfeitavam o ambiente, como proporcionavam arrepios de prazer nos admiradores quando as frutas, maturadas, chegavam ao ponto de degustação. Ganharia a taça de campeão de originalidade em qualquer disputa honesta! Depois, ainda contribuía com suas mangueiras copadas, abacate, laranja, tangerina e muito mais. Alceu comandava as visitas como bom anfitrião! Companheiro de primeira hora. Da cabeceira. Mas certa feita uma brincadeira passou dos limites e os visitantes tiveram que evadir-se (isso mesmo!). Foi experimentando a pontaria de um estilingue, armado com uma flecha de arame duro, com o Alceu segurando uma manga, com o braço esticado. A seta acertou e furou sua mão. Um grito de dor, a zelosa mãe acorrendo e os amigos saindo em disparada. Por sorte o ferimento não causou dano maior. Mas ficamos um bom tempo corrido de lá...
Outro local, não muito longe dali, muito aprazível, era o quintal do Ângelo Furlan, mais chegado à chácara por suas dimensões. A peculiaridade era o pé de araçá. Fruta saborosa aquela. Dulcíssima, não tinha rival naquele quintal, apesar da amoreira, carambolas, caquis e outros frutos de dar água na boca.
Aqui, os reis do pedaço eram o Tonhão Furlan e o Antonio Luiz Ferrari, netos do seu Ângelo. Dois moleques endiabrados, cheios de vida e imaginação, prontos, da hora, para arrumar uma traquinagem. Amigos do peito!
O seu Gustão também possuía seu quinhão. Um terreno penso, triangular, ladeado por duas ruas e o rio. Entre o rio e o quintal o burizeiro se espalhava, enfeitando o ambiente com suas folhas verdes em forma de espadas e flores vermelhas e amarelas, prontas para mostrar seus frutos.
No entanto, o grão mestre do terreiro, o que chamava mais a atenção, era a imponente mangueira. Era do tipo “coração de boi” e as mangas enormes e vermelhas. Aquele quintal,limpo, imaculado,sem nenhuma folha seca no chão, foi palco de muitas brincadeiras e estilingadas nos pássaros,que o digam os siriris, sanhaços e outros.
Se eu sinto saudades desse lugar, imagine o Ivo, o super leal companheiro do pedaço?
Participei, como protagonista dessa história com todos esses amigos citados, freqüentávamos os mesmos lugares, a igreja, o clube e a escola e possuíamos os mesmos anseios. De alguma forma, éramos verdadeiramente irmãos.
Hoje, recordo com prazer e sem saudosismo aqueles momentos felizes, pois fizeram parte importante do aprendizado da vida. Relembrar aquele passado é revisitar o templo onde nossa alma aprimorou-se até desenvolver-se no que seríamos hoje e sempre!
*Borjas Braga, delegado de Polícia aposentado, natural de Boa Esperança do Sul, reside em Santos (SP).
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