A situação começou a ficar previsível quando constatamos que, com isso, a Ford produziria apenas três modelos no Brasil: Ka, Ka Sedan e EcoSport. Mas, por outro lado, investiu em trazer veículos produzidos em outros países, como a picape Ranger (Argentina), os SUVs Edge ST (Canadá) e Territory (China), e o esportivo Mustang (EUA). Com o anúncio do encerramento da produção nas fábricas brasileiras, fica confirmado que, a princípio, a Ford se manterá apenas como uma importadora de veículos no país.
E quais as consequências imediatas disso? A primeira, e mais grave, é a perda de 5 mil postos de trabalho diretos, sem falar nos indiretos. Fornecedores de peças vão amargar prejuízos e terão que direcionar sua produção para outros fabricantes, caso consigam fazê-lo. A Ford garantiu que a produção de peças de reposição será mantida “por um tempo”, para que os proprietários de modelos da marca não enfrentem problemas de manutenção. Mas é difícil acreditar que um fabricante que anuncia o fim da produção de seus modelos tenha realmente o compromisso de manter as peças de reposição. E a rede de concessionárias, que também será prejudicada, terá interesse em manter a bandeira da marca basicamente para prestar assistência aos clientes e vender produtos importados? É difícil acreditar que sim, pois a estrutura é cara e o negócio dessa maneira deixa de ser interessante.
Tudo isso cria um cenário desanimador para quem tem carros da marca. A montadora diz que venderá as unidades do Ka, Ka Sedan e EcoSport que estão em estoque, já que a produção será imediatamente interrompida. Mas quem terá a coragem de comprar qualquer um desses modelos depois desse anúncio? É sabido que o mercado de usados é cruel e costuma desvalorizar muito os modelos fora de produção, salvo raras exceções. E existe grande chance de isso acontecer com os modelos Ford.
A marca já não vinha bem no mercado brasileiro, com a participação em queda desde 2016. A Ford encerrou 2020 em quinto lugar no ranking das montadoras, e na soma de automóveis e comerciais leves teve uma participação de apenas 7,14%, enquanto a líder GM teve 17,35%, a VW 16,80%, a Fiat 16,50% e a Hyundai 8,58%. São sinais de que, depois de mais de 100 anos no Brasil, a Ford pode estar preparando sua partida, de forma melancólica, e em etapas. É a confirmação da tragédia anunciada.
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