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Novo método aposenta 'furadeira'
Um equipamento que mede a pressão dentro do crânio sem a necessidade de perfurá-lo promete melhorar o diagnóstico e o acompanhamento de pacientes com acidente vascular cerebral (AVC), traumatismo craniano, hidrocefalia, meningites e outras doenças do sistema nervoso central.
"A pressão intracraniana é uma informação importantíssima, mas, até agora, esteve fora do alcance dos médicos na maioria das situações, pois exigia um procedimento invasivo para ser obtida", explica Sérgio Mascarenhas, do Instituto de Física de São Carlos (IFSC-USP). De fato, os métodos disponíveis no mercado incluem a perfuração do crânio para realizar a medição.
Mascarenhas apresentou o sensor na 26ª Reunião Anual da Federação de Sociedades de Biologia Experimental (Fesbe), encerrada ontem, no Rio. Seu filho já criou uma empresa - a Sapra - para comercializar o sensor, que pode ser colocado sob ou sobre a pele para aferir a pressão dentro do crânio sem danos para o osso.
O cientista também espera autorização do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro) e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Em um cenário otimista, prevê que receberá os carimbos no próximo semestre.
Ele afirma que o preço dos monitores disponíveis no mercado varia de R$ 25 mil a R$ 50 mil. Os sensores custam entre R$ 2,5 mil e R$ 5 mil. "Nosso produto terá um preço médio de R$ 350", argumenta. "E será bem mais versátil. Poderá ser usado em academias, ambulâncias e consultórios, por exemplo."
A técnica já foi testada em ratos, coelhos, ovelhas e porcos. No Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, o método minimamente invasivo, que insere o sensor sob a pele - e, portanto, demanda uma pequena incisão -, apresentou ótimo desempenho em testes com dez seres humanos com traumatismo craniano.
Mascarenhas, que hoje tem 83 anos, já recebeu diagnóstico de Parkinson. Exames mais cuidadosos mostraram que sofria de hidrocefalia de pressão normal. Há cinco anos, perfurou o crânio para colocar um cateter que drenaria líquidos acumulados no seu cérebro.
Também precisaria medir periodicamente a pressão intracraniana. Não se conformava com a necessidade de um orifício para realizar as medições. Como bom físico, começou a indagar princípios para intuir o conteúdo de uma caixa sem violá-la. Realizou alguns testes sobre a mesa da cozinha da sua casa.
O cientista supôs que o crânio poderia sofrer deformações quando a pressão dentro dele se altera. A hipótese feria uma convicção estabelecida desde 1783, a chamada doutrina Monro-Kellie: o crânio é uma caixa rígida. Mas os experimentos mostraram que o consenso estava errado: o crânio sofre uma deformação linear quando sua pressão interna aumenta. Recorreu a sensores semelhantes aos utilizados para aferir deformações em estruturas de construção civil, devidamente adaptados.
Teve de enfrentar então um novo ceticismo. "Diziam-me que, como as deformações eram muito sutis, não seria possível realizar medidas precisas: os dados importantes se confundiriam com o ruído", recorda. O farmacêutico Gustavo Frigieri realizou seu doutorado sob a orientação de Mascarenhas e foi peça-chave no amadurecimento da tecnologia. Ele explica que utilizou um método chamado análise de Fourier para separar as informações úteis do ruído captado pelo sistema.
Além de menos invasiva, a técnica também promete oferecer, para os médicos, dados mais precisos e em intervalos de tempo menores.
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