quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

PURA EMOÇÃO: "Engravidei do meu marido, oito meses depois de ele ter morrido"

Kátia e a filha, Luiza (Foto: Acervo pessoal)
“Em 2001, fui ao aniversário de uma amiga minha em uma pizzaria em Curitiba e na saída da festa, eu avistei o Roberto na porta. Ele logo me chamou atenção, cruzamos olhamos e nos cumprimentamos. Falei que lá dentro estava gostoso, que tinha música ao vivo... Mesmo assim, ele resolveu me acompanhar até o meu carro. Trocamos telefone e fui embora. Mas não tirei o Beto da cabeça. No dia seguinte, ele me ligou e só conversamos. Fomos sair para jantar somente dez dias depois e logo nos apaixonamos e começamos a namorar. Não me esqueço da data: 15 de outubro de 2001. Na época, eu tinha 29 anos e ele, 26. Passamos o Réveillon juntos na praia de Bombinhas, em Santa Catarina. E foi durante a festa que nos declaramos e já providenciamos um anel de compromisso. Um ano depois, em 15 de novembro de 2002, viajamos pra Floripa, na Praia de Canavieiras, e lá noivamos. Maior clima romântico! 

Nos casamos em 11 de dezembro de 2004, com direito a tudo: igreja, festa, véu, grinalda e flor de laranjeira. Após um ano, começamos a planejar um filho. Cheguei a engravidar logo, mas tive uma gestação ectópica (em que o embrião se forma fora do útero) e perdi o bebê com seis semanas, algo que foi muito traumatizante para a gente. Continuamos a tentar, mas sem sucesso.

Minha vida com o Beto parecia de contos de fadas. Ele era companheiro, gostávamos das mesmas coisas, tínhamos os mesmos interesses... Tudo na gente batia. Fui sua primeira namorada séria, a única que ele apresentou à família. O Beto era muito bravo e muitos diziam que eu ia sofrer com ele. Mas, ao contrário, consegui dar e receber tanto amor, que mal acreditava que era possível ter uma relação tão linda como a nossa. Todos os dias, antes de dormir, repetíamos que nos amávamos e depois ríamos juntos. Então ele me abraçava e falava que não se via mais sem mim.

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Tudo estava perfeito até que, em maio de 2008, fomos de férias para Cuba. Lá, ele me mostrou uma verruga pequena na barriga que havia crescido um pouco e estava incomodando. Voltamos ao Brasil, e em setembro do mesmo ano, notamos ela começou a sangrar. Nunca achamos que fosse algo grave, mas, por desencargo de consciência, Beto foi ao médico para retirá-la. Como praxe, mandaram o material para biópsia e quase caímos para trás quando veio o resultado. Era um câncer de pele extremamente agressivo, já em estado avançado.

No dia que pegou o resultado, Beto foi até a escola em que eu lecionava. Estava desolado. Muito triste, tentei tranquiliza-lo. Disse que aquilo não devia ser nada demais e que já já tudo passaria e voltaria ao normal. Mas ele não se conformava. Se lamentava por nunca ter conseguido me dar um filho. Aquilo foi uma facada no meu coração. Naquela hora, eu só pensava na cura dele. Choramos juntos, abraçados, mas no fundo tínhamos esperanças que ele tiraria essa doença de letra.

E aí começou a nossa saga. Aquela correria danada indo à médicos, hospitais, cirurgias... Uma decisão importante que tomamos foi a de guardar o sêmen dele para que, no futuro, quando ele terminasse o tratamento, a gente pudesse realizar o nosso sonho de ter um bebê. A quimioterapia poderia destruir os espermas e essa foi a mais sábia decisão que tomamos. Em cada cirurgia que ele fazia era uma nova descoberta, mais coração apertado e mais sofrimento pra nós. A cada quimio, sentia que o perdia mais um pouco e junto também a minha esperança.

Nunca demonstrei o meu desânimo para o Beto, me mantinha positiva e sempre com um sorriso no rosto, embora meu coração estivesse estraçalhado. A essa altura, já tínhamos descoberto que seu melanoma era, de fato, muito agressivo e já havia se espalhado pelos ossos. Com a metástase confirmada, não demorou para ele parar de mexer o braço direito e começar a andar mancando. Beto passou por quatro cirurgias e, como ficava muito debilitado, permanecia internado nos intervalos das quimios. Eu não saía de perto dele um só minuto. Me lembro que ia conversar com os médicos e só chorava. Mas, voltava sorrindo para o quarto, para não deixá-lo abalado.

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Um dia, tomei coragem e perguntei à oncologista quanto tempo de vida meu marido teria. Ela respondeu que não passaria de um ano. Calada, fui para casa e chorei feito criança embaixo do chuveiro. Mesmo totalmente sem esperanças, tentamos de tudo. Até cirurgias espirituais a gente fez. Era a luta pela vida e tínhamos pouco tempo para correr atrás. Beto falava para a família e os amigos mais próximos que a maior frustração dele era não ter me dado um filho e eu, apesar de fingir o contrário, não tirava isso da cabeça.
Nos últimos dias de internação, com ele já em coma, a médica me disse que ele me escutava, mesmo desacordado. Então fui até o pé do ouvido dele e lhe disse, baixinho, chorando muito: ‘Ainda vamos ter um fruto nosso, do nosso amor’. Exatamente um ano após a descoberta da doença, no dia 12 de fevereiro de 2010, o Beto morreu. Perdi meu chão, minha base... tudo. A única força que eu tinha era aquele sêmen guardado na clínica de fertilização e foi naquilo que eu me agarrei para seguir em frente e continuar a viver.

Duas semanas após o falecimento do Beto, procurarei a clínica já decidida a fazer o procedimento e realizar o nosso maior sonho. E, para a minha surpresa, eu não tinha a permissão para usar, descartar ou doar o sêmen do meu marido. Achei tudo insano e incoerente. Não tive o apoio de ninguém. Minha mãe foi a única que ficou ao meu lado, mesmo, na época, já com 80 anos. Peguei então o restinho de forças que ainda tinha e fui brigar judicialmente para garantir o direito de engravidar do meu marido que já havia falecido.

Procurei o meu ginecologista, que até hoje chamo de meu ‘anjo da guarda’ porque foi quem me apresentou aos advogados que cuidaram bravamente do meu caso. Comecei uma batalha judicial no final de março de 2010. E, quase três meses depois, saiu a autorização na justiça. Pelo que sei, fui a primeira mulher a conseguir esse recurso no Brasil. Não sei se as outras também conseguiram depois, espero que sim. Torço muito por elas! Sei que algumas pessoas nos criticam, dizendo que é absurdo as crianças não terem o direito de conhecer seus pais biológicos... Mas o amor supera e supre tudo.
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Comecei a fazer o tratamento logo em seguida. Primeiro, fiz uma inseminação e não deu certo. Sem desanimar, parti para a fertilização. A primeira tentativa também deu errado. É um misto de decepção, tristeza, desmotivação. Mas uma força dentro de mim me dizia para continuar. Enfim, em outubro de 2010, parti para a segunda tentativa. Dias antes, havia dito ao médico que aquela seria a última tentativa. Meu dinheiro havia acabado e não tinha mais como continuar. Mas deu certo! Nem sei descrever a emoção que senti. Era como se sentisse o meu marido vivo dentro de mim... Mal podia acreditar que estava grávida do Beto!

Assim que soube da notícia, dei pulos de alegria. Já estava com 39 anos, era portanto uma gravidez de risco. Precisei ter muitos cuidados e fazia semanalmente diversos exames. Logo que soube que era menina escolhi o nome: Luiza Roberta, em homenagem ao pai.
Um ano e meio após o falecimento do Beto, no dia 20 de junho de 2011, nasceu a minha maior riqueza! Veio a cara do pai, impressionante a semelhança entre os dois. Aliás, ela tem tudo dele, até alguns trejeitos. Foi indescritível ver seu rostinho pela primeira vez! Uma felicidade imensa, um amor incondicional, inexplicável... Cumpri a promessa que fiz para o Beto.

Atualmente, Luiza Roberta está com sete anos. É uma menina alegre, esperta, muito especial. E está cada vez mais parecida com o pai! Ela não sabe muito sobre a nossa história, é muito criança ainda para entender. Sabe só que o pai teve uma doença rara e faleceu. Diz que ele está morando na lua. Um dia, pretendo contar como esse grande amor me deu forças para lutar por ela.
Já me deparei com ela janela falando com a lua, como se estivesse falando com o pai. Momento de pura emoção para mim. Na época do Natal, eu também já a vi pedindo para o Papai Noel trazer o Beto de volta, o que corta meu coração. Às vezes ela chora (e eu choro junto, claro!), porque ela fala que queria conhecer o paizinho. Não é nada fácil cuidar dela sozinha, sem poder dividir as coisas com um companheiro. Já namorei dois caras depois disso, mas nada muito sério. Ainda sinto muito a falta do Beto, e me pego chorando de saudade.

A Luiza mudou minha vida em todos os aspectos. Minha cabeça é totalmente voltada para ela. Acredito que os filhos são a continuação da gente, da nossa genética, da nossa alma, Estou até escrevendo um livro contando toda a nossa história que se chamará Luiza, Uma Promessa de Vida.

Por diversas vezes, me senti sozinha. Não sabia o que fazer com uma criança nos braços, mas era só olhar para Luiza que apareciam todas as respostas. Sei que se o Beto estivesse aqui conosco a nossa felicidade seria completa. Mas sinto que, de onde ele estiver, está sempre nos protegendo e olhando pela gente. Uma alma gêmea, como nós éramos, não se afasta nem com a morte. Certamente, vai muito além da vida!”
POR KÁTIA LENERNEIER EM DEPOIMENTO A KIZZY BORTOLO
Revista Marie Claire
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