sexta-feira, 10 de junho de 2011

VIDA MODERNA:Bullying, da distorção ao exagero


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Bullying, segundo eu mesma
por *Juliana Izabeli
“… me preocupa o uso do termo “bullying” para demonizar toda molecagem e vitimizar toda fraqueza. Cada criança tem seu jeitão e sua porção de culpa por seus próprios dissabores. A violência desmedida deve ser contida, mas não às custas das lições que a experiência da vida franca ensina, com toda a dor que a acompanha.”
(Arnaldo Bloch)

Hoje à tarde, lendo a coluna do Arnaldo Bloch no jornal O Globo, despertei para discorrer sobre o assunto, saturado pelos oportunistas de plantão. Na verdade, o foco de discurso aqui não é o bullying propriamente dito, mas a indiscriminada abordagem, que vai da distorção ao exagero. Estou cansada de ouvir: “Professores, pais, educadores em geral devem buscar orientação com especialistas…” Aquele blá blá blá.

Pois é. Quem nunca teve um apelido na vida? Quem nunca foi vítima de piadinhas? Na infância, os apelidos surgem naturalmente, uma vez que a imagem do outro, criada por meninos e meninas, costuma ser caricatural. Além disso, ninguém nasce um quarteto fantástico de predicados, príncipe-gênio-modelo-simpatia, a ponto de não receber um apelido ordinário ou carinhoso que seja. E mesmo a suposta perfeição mereceria um apelidinho: “Perfeitinha!”. Ser chamada de “Divina” seria uma chatice.

Eu era a CDF do meu grupo de amigas. Adorava tirar as melhores notas e sabia que, ao chegar a minha vez de receber as provas, os colegas da turma cantavam a pedra: “Já sei, dez ou nove…” Eu ria e pensava: “Idiotas, fico de férias em novembro!”.

As brigas eram inevitáveis, e com elas vinham as decepções, os choros, as queixas, os bodes expiatórios. Criavam-se, a partir daí, estratégias de sobrevivência, o que ajudava a criança a amadurecer as relações com os outros e consigo mesma. Como dizia o poeta, cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é.

Na adolescência, meus cabelos lisos e minha pele morena me custaram apelido até para o pré-vestibular: Juliana Pocahontas, estampado na camisa. No ensino médio do CEFET, éramos um grupo de tantos outros: Camarão, Cheiroso, Placenta, Fizuca, Jabour, Lobisomem… Ninguém saiu atirando em criancinhas por isso.

No mundo dos adultos, o estilo chama a atenção e ajuda a enquadrar as pessoas em grupos por estereótipos: mauricinho é “o mala” de plantão, engravatado, com o cabelo penteadinho; o playboy e a patricinha são figuras fáceis, muitas vezes falsificadas, que estampam o poder de consumo em modelitos de grifes; o “pitboy” é o fortão que só malha os músculos e vive acompanhado de seu cão voraz, mais inteligente que ele, é claro; a loura burra não pode fazer uma besteira no trânsito (“Tinha que ser loura!”), o intelectual tem aquele papo-cabeça, cuja compreensão pelo interlocutor não passa de trinta por cento; entre outros.

E os professores? Como são vítimas de “bullying”! Já teriam cometido atrocidades em virtude dos apelidos colocados pelos alunos. Já pensaram quantas vezes uma turma inteira boicota a aula de um professor? Bolinhas de papel cruzando a sala de aula; avaliações cruéis de roupas, sapatos, cortes de cabelo…

O que deve preocupar e demandar ações imediatas, acredito, são intimidações; agressões verbais (principalmente as veladas, aquelas ao pé do ouvido) ou físicas, que levam ao pânico, isolam o indivíduo da sociedade, transformam-no em não ser, reprimem suas descobertas e relações com o mundo externo. Isso sim é a tal violência desmedida, que deve ser combatida.

Pelo amor de Deus, que tipo de adulto a televisão, ou melhor, os meios de comunicação estão ajudando a formar?

*Juliana Izabeli Bulhões por Juliana Izabeli Bulhões:
Eu não sei exatamente...
Quem sou?
Não posso me traduzir com a precisão de uma bula de remédio.
Nem me apresentar em mapa.
Com limites divisas ou fronteiras.
Uma inquietude que se faz ler em verso e prosa.
Sou eu e muitas de mim mesma.
As linhas que conheço.
Formam uma silhueta que traduz pensares.
Penares e pesares.
Mas o desenho final fica por conta do leitor.
A dor e a angústia são minhas aliadas no processo de escritura.
A partir delas, contemplo palavras.
Percorro-as em letras e sons.
Tempero-as a meu gosto.
Exibo minha morfossintaxe
Em palco inundado de saliva.
Em ressacas vernaculares.

Creative Commons License
O texto Bullying, segundo eu mesma de Juliana Izabeli, salvo disposto em contrario, 

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