Testadas e aprovadas no mundo todo, as aulas em vídeo do americano Salman Khan são adotadas como ferramenta de ensino na rede pública do Brasil
Texto Nathalia Butti
O americano Khan é matemático e desenvolveu um método que aposta no uso da tecnologia
para transformar o sistema de ensino atual
O governo federal produziu no mês de março passado uma boa notícia em uma área em que costuma patinar: a educação. A presidente Dilma Rousseff e o ministro Aloizio Mercadante anunciaram a inclusão, nos 600 000 tablets que chegarão aos professores da rede pública ao longo do ano, do aplicativo com as aulas do americano Salman Khan, ou Sal, que se tornou um fenômeno ao disseminar pela internet vídeos curtos com explicações simples e atraentes sobre os conteúdos de ciência e matemática. Os primeiros 400 vídeos traduzidos para o português pela Fundação Lemann estarão disponíveis ainda no portal dos professores na internet e na TV Escola.
A iniciativa reflete o reconhecimento de que a tecnologia é ferramenta essencial na transformação do aprendizado - e de que um país que precisa acelerar a formação de seus jovens não pode prescindir dela. Com 200 milhões de acessos no YouTube, as lições de Sal já são utilizadas como material de apoio em 20 000 salas de aula mundo afora. No Brasil, a própria Fundação Lemann exibiu, durante todo o segundo semestre do ano passado, vídeos dublados com lições de matemática a 1 260 alunos do 5º ano do ensino fundamental de escolas públicas das periferias de São Paulo e Santo André. As faltas diminuíram e a participação nas aulas aumentou.
É claro que a simples adoção de um aplicativo não substitui a necessária melhora na formação dos professores. Os vídeos de Khan também não são uma solução mágica para o evidente atraso do Brasil quanto ao emprego da tecnologia na educação. Outra questão crucial, o amplo acesso aos computadores e à internet, permanece inatacada. "Pouco vai adiantar distribuir todo esse material se os alunos não tiverem como assistir aos vídeos e a escola não tiver uma boa conexão com a internet, o que ainda é raro no Brasil", afirma a consultora em educação Maria Helena Guimarães. É inquestionável, no entanto, o potencial das aulas de Sal na melhora do aprendizado. Os vídeos costumam fazer sucesso justamente porque utilizam uma linguagem direta e muito didática. E nunca são muito longos, para não dispersar a atenção. Sua fórmula pode servir de modelo aos professores sobre como ensinar determinados temas. Pode também tornar a experiência em classe mais interativa.
Na Califórnia, onde um grupo de escolas públicas adotou os vídeos como material de apoio, os estudantes assistem às lições em casa e depois usam o tempo em sala para fazer exercícios e experiências. Ao longo de 2013, mais 600 aulas dubladas serão distribuídas, e, até 2014, os professores devem receber, também traduzido, o software que permite acompanhar em tempo real a resolução dos exercícios propostos à turma nos vídeos. "O objetivo principal é que os alunos possam aprender em seu ritmo e usar a sala de aula para interação de verdade", disse Khan, que foi a Brasília na semana passada para se encontrar com Dilma Rousseff.
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